domingo, 21 de junho de 2009

O COELHO E A RAPOSA

O COELHO E A RAPOSA

Havia um coelho confiante que vivia no tronco de uma árvore. Corria veloz como o vento, os olhos bem abertos, de ouvidos à escuta. Certo dia, uma raposa aproximou-se da toca e, assim como quem faz conversa disse: “Sr. Coelho, ouço dizer pelo bosque que não há outro tão veloz, que o senhor é o único coelho por quem nenhum predador afiará o dente”. O coelho levantou a orelha esquerda, depois a direita, espreitou com o olho esquerdo, depois com o direito, e pôs a cabeça de fora da toca: “Ora viva Sr. Raposo, é bem verdade o que ouviste dizer. Sou o mais rápido, o mais veloz dos coelhos e nenhuma raposa ou lobo me há-de comer um dia”. E enquanto pronunciava estas palavras fechava os olhos de satisfação. Foi só preciso um momento para que a raposa lhe abocanhasse a cabeça.
Do coelho resta a história, da raposa a memória, na floresta tudo é calmo, cada qual na sua toca.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A CASA

A CASA

No cimo do telhado estava o galo, a cantar todas as manhãs. Ao primeiro canto acordava o cão de guarda. Não havia ladrão que entrasse sem levar uma mordidela nos fundilhos. Despertava as galinhas que punham os ovos do pequeno-almoço. e esticando-se-se no tapete, também o gato abria os olhos, e logo se punha a apurar a mestria de apanhar ratos. Era uma casa farta, onde tudo acontecia em boa hora, uma casa segura, tranquila. Enfim, talvez não feliz, pelo menos segundo o dono. Que a vida estava cara era queixa constante a todas as refeições, à hora da deita e ao amanhecer. Cada ovo que comia azedava com preço do milho que dava às galinhas. Ao jantar, maldizia os ossos que atirava ao cão, e o peixe que comia o gato Sempre que ouvia cocororó lamentava a despesa que lhe dava o galo. Foi então que teve a ideia de diminuir os custos e aumentar o produto. Cortou para metade a ração e ordenou às galinhas que pusessem o dobro dos ovos. Teve ainda o cuidado de pedir ao galo que cantasse mais afinado, lembrando-lhe o preço a que estava o milho. Ao cão retirou os ossos e atirou-lhe as cascas da fruta, ao gato deixou as espinhas. Quando o galo morreu de fome e doença, comprou um despertador. Quando o gato fugiu em busca de melhores paragens, espalhou ratoeiras com bolor a fazer de queijo. Quando as galinhas sucumbiram à exaustão vendeu-as no mercado. Quando o cão ficou fraco demais para defender a casa chamou-o de preguiçoso e abandonou-o numa ruela escura. Não houve rato que se chegasse às ratoeiras, antes preferiram os víveres da despensa. Ovos, deixou de comê-los ao pequeno-almoço. Quando a pilha do despertador acabou adormeceu e perdeu o emprego. Ficou-se, agarrado ao pouco que lhe restou da venda das galinhas. Mas também isso lhe foi retirado quando os ladrões lhe entraram em casa. O cão já lá não estava.