O REI DA SELVA
Há muito tempo, certo dia de Estio, no centro da savana Africana, viveu um rei. A corte animal bendisse o seu nascimento, abençoou a cria de Sua Majestade, predisse um futuro brilhante. O futuro rei, de juba incandescente, cresceu com os dons de beleza, voz, pujança. Apesar de abençoado em tudo o que podia desejar, a sua alma era atormentada pelo medo. Temia o dia em que viria a reinar, em que a corte gritaria: O REI MORREU, VIVA O REI! Mas o futuro incerto faz-se sempre acompanhar pela certeza do Tempo, e o dia temido chegou, nem cedo de mais, nem tarde de mais, e a corte gritou o grito esperado. A sua juba fez-se coroa, a pata ergueu-se para comandar. No acto, contudo, as garras retraíram-se, tremeu-lhe o membro, o rugido desfez-se, e assim ficou, desnudado pelos olhos dos outros animais que esperavam liderança como quem espera a manhã que vem iluminar a noite. Ora um sapo, de ampla voz, que vivia num charco ali próximo, abeirou-se do rei e coaxou algo que mais pareceu um arroto: Se me permite Vossa Majestade, bem vejo que a voz lhe treme quando quer falar, que os vossos desejos se dissolvem na língua, que tendes dificuldade em mostrar o vosso coração de líder. Deixai que fale por vós como Aarão falou as vontades de Moisés. Toda a juba do rei se iluminou, os dentes mostraram-se num sorriso, e logo o sapo se empoleirou entre as cerdas cor de fogo. Foi assim que o rei da selva começou a reinar pela voz do sapo. Pela voz, só? Pela vontade, também. O sapo reinou caprichos, fez das competências de um líder mesquinhez, alimentou-se de reais repastos. A corte, desorientada, em breve se desmantelou, como um castelo de areia há muito sem água. O rei da selva era agora rei de nada, nem mesmo de si próprio.
Há muito tempo, certo dia de Estio, no centro da savana Africana, viveu um rei. A corte animal bendisse o seu nascimento, abençoou a cria de Sua Majestade, predisse um futuro brilhante. O futuro rei, de juba incandescente, cresceu com os dons de beleza, voz, pujança. Apesar de abençoado em tudo o que podia desejar, a sua alma era atormentada pelo medo. Temia o dia em que viria a reinar, em que a corte gritaria: O REI MORREU, VIVA O REI! Mas o futuro incerto faz-se sempre acompanhar pela certeza do Tempo, e o dia temido chegou, nem cedo de mais, nem tarde de mais, e a corte gritou o grito esperado. A sua juba fez-se coroa, a pata ergueu-se para comandar. No acto, contudo, as garras retraíram-se, tremeu-lhe o membro, o rugido desfez-se, e assim ficou, desnudado pelos olhos dos outros animais que esperavam liderança como quem espera a manhã que vem iluminar a noite. Ora um sapo, de ampla voz, que vivia num charco ali próximo, abeirou-se do rei e coaxou algo que mais pareceu um arroto: Se me permite Vossa Majestade, bem vejo que a voz lhe treme quando quer falar, que os vossos desejos se dissolvem na língua, que tendes dificuldade em mostrar o vosso coração de líder. Deixai que fale por vós como Aarão falou as vontades de Moisés. Toda a juba do rei se iluminou, os dentes mostraram-se num sorriso, e logo o sapo se empoleirou entre as cerdas cor de fogo. Foi assim que o rei da selva começou a reinar pela voz do sapo. Pela voz, só? Pela vontade, também. O sapo reinou caprichos, fez das competências de um líder mesquinhez, alimentou-se de reais repastos. A corte, desorientada, em breve se desmantelou, como um castelo de areia há muito sem água. O rei da selva era agora rei de nada, nem mesmo de si próprio.