sexta-feira, 31 de julho de 2009

O GALO METEOROLÓGICO

O GALO METEOROLÓGICO

Era meteorológico o galo da casa, cambiando entre azul vivo quando brilhava o sol e rosa pálido quando vinham as chuvas. A sua cor seguia os caprichos da meteorologia, ao anunciar e seguir o boletim. Outros da casa seguiam o galo que obedecia ao tempo.
Um dia, o deus da meteorologia desceu à casa e disse-lhe: “Dispenso-te dos teus afazeres, galo, pois com tantos e modernos métodos de previsão não preciso mais de ti”. Surgiu a dúvida no espírito do galo, sereno até então, sobre que cor assumir. Mas, logo se sentiu salvo pela brilhante ideia de se opor ao tempo ao invés de segui-lo. Passou a exibir-se rosa pálido quando o sol brilhava e azul vivo assim que se anunciavam nuvens. Mais do que as escolhas de cor, outra mudança se deu. Já ninguém seguia o galo, nem tão pouco admirava a sua capacidade de antecipação. Antes o criticavam por se opor a cada momento àquilo que todos queriam seguir. O galo meteorológico voltou a sentir-se triste, indeciso – pior, impreciso. Era incapaz de escolher uma cor que reflectisse o seu verdadeiro ser, pois era feito de substância inanimada, oco por dentro.
O galo meteorológico não morreu de desgosto, nem teve outro fim trágico que não fosse este: passou o resto dos seus dias variando de forma confusa e incoerente as cores que conseguia mostrar, por vezes tão indefinidamente que era impossível aos da casa determinarem o tom. A cor foi-se gastando, sem propósito, sem direcção, sem paixão. Um dia, era já nada.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A OVELHA E O LOBO

A OVELHA E O LOBO

“Por favor não me comas”, baliu a ovelha perante a boca escancarada do lobo. O pedido foi atendido, a ovelha urdira um plano, trocando-o pela vida. “Não me comas por favor, e todos os dias terás farta refeição sem que para isso tenhas de correr, perseguir, sem que para isso tenhas de fatigar-te.”, propôs a ovelha. Houve acordo, e nos tempos que se seguiram, dia após dia, a ovelha afastava do rebanho uma companheira. Atrás de uma árvore, misturando-se com a sombra, o Lobo não tinha mais que dar dois ou três passos para enterrar a morte no pescoço da vítima. Uma após outra, todas as ovelhas foram devoradas e o rebanho findou. Sobrou uma, a tal, aquela, a que. E já o lobo salivava de boca aberta quando a ovelha baliu em protesto:”Mas, comes-me a mim que te ajudei?”, ao que o lobo respondeu:”O que é que te faz diferente das outras? Acaso não és tu uma ovelha do mesmo rebanho?”. A ovelha, entre o susto e a ofensa baliu:”Mas, a mim que matei por ti?”. Mordendo o primeiro pedaço, o lobo impaciente rematou:”Não foi por mim que mataste, mas por ti”.