A LAGARTA BICÉFALA
Havia em certo jardim uma lagarta tão longa que todos os animais abriam a boca de espanto à sua passagem. Era tão comprida que ao estender-se bem estendida, com a cabeça para um lado e a cauda para o outro entrava e saia simultaneamente do jardim que habitava. Mais do que o seu comprimento, que por si só já era de admirar, a estranheza da lagarta residia no facto de ter duas cabeças. Ou seja, quando há pouco a descrevi como tendo cabeça e cauda em cada uma das suas pontas, a verdade é que a cauda era também a cabeça. Ora se diz o ditado que duas cabeças pensam melhor do que uma, tal não era o caso da lagarta bicéfala. As duas cabeças nunca estavam de acordo. Se uma queria caminhar, a outra queria descansar. Se uma queria comer, a outra queria dormir. Se uma sonhava vir a ser borboleta, a outra desejava ser lagarta para sempre.
O mocho julgou ter a solução para o problema. Corte-se ao meio a lagarta, disse, e fica uma cabeça para cada lado. Mas como cada cabeça tinha o seu pensar, uma achou boa a solução e a outra achou mal. Foi-se a votos. A lagarta contou os anéis de cada metade do seu corpo, à metade com mais anéis caberia a decisão. Não sabia, porém, que duas metades de lagarta possuem o mesmo número de anéis. Se uma ficou satisfeita com o empate, e outra ficou de mau humor. Puseram-se a discutir, numa daquelas discussões com tantas palavras quanto o número de anéis que tinham contado. Nisto, aproximou-se o corvo, que de tanto observar a lagarta achou que se abrisse bem o bico e abocanhasse uma das cabeças, conseguia engoli-la toda, enrolando-a bem enrolada dentro do seu estômago. Foi a primeira vez que as duas metades concordaram. Nenhuma queria morrer. Não tiveram tempo de manifestar o seu acordo, porque o corvo abocanhou uma ponta e terminou na outra após longo repasto. No jardim soou um arroto, e um suspiro de satisfação.
Havia em certo jardim uma lagarta tão longa que todos os animais abriam a boca de espanto à sua passagem. Era tão comprida que ao estender-se bem estendida, com a cabeça para um lado e a cauda para o outro entrava e saia simultaneamente do jardim que habitava. Mais do que o seu comprimento, que por si só já era de admirar, a estranheza da lagarta residia no facto de ter duas cabeças. Ou seja, quando há pouco a descrevi como tendo cabeça e cauda em cada uma das suas pontas, a verdade é que a cauda era também a cabeça. Ora se diz o ditado que duas cabeças pensam melhor do que uma, tal não era o caso da lagarta bicéfala. As duas cabeças nunca estavam de acordo. Se uma queria caminhar, a outra queria descansar. Se uma queria comer, a outra queria dormir. Se uma sonhava vir a ser borboleta, a outra desejava ser lagarta para sempre.
O mocho julgou ter a solução para o problema. Corte-se ao meio a lagarta, disse, e fica uma cabeça para cada lado. Mas como cada cabeça tinha o seu pensar, uma achou boa a solução e a outra achou mal. Foi-se a votos. A lagarta contou os anéis de cada metade do seu corpo, à metade com mais anéis caberia a decisão. Não sabia, porém, que duas metades de lagarta possuem o mesmo número de anéis. Se uma ficou satisfeita com o empate, e outra ficou de mau humor. Puseram-se a discutir, numa daquelas discussões com tantas palavras quanto o número de anéis que tinham contado. Nisto, aproximou-se o corvo, que de tanto observar a lagarta achou que se abrisse bem o bico e abocanhasse uma das cabeças, conseguia engoli-la toda, enrolando-a bem enrolada dentro do seu estômago. Foi a primeira vez que as duas metades concordaram. Nenhuma queria morrer. Não tiveram tempo de manifestar o seu acordo, porque o corvo abocanhou uma ponta e terminou na outra após longo repasto. No jardim soou um arroto, e um suspiro de satisfação.