A ANDORINHA E O TEMPO
Certo dia, chegando a Primavera, duas andorinhas pousaram no telhado de um estábulo e aí fizeram o seu ninho. Dentro do ninho a Dona Andorinha depositou três ovos. De dentro dos ovos estavam quase a nascer três filhotes. A ansiedade dos futuros papás foi bem recompensada na manhã em que três pequenos bicos partiram as cascas. Os filhotes começaram logo a engordar com as minhocas deliciosas que os papás achavam e enfiavam pelas três goelas escancaradas. Já tinham penas sedosas, apropriadas ao voo rápido das andorinhas. Assim, quase sem o Senhor Tempo se aperceber, dois dos três filhotes aprenderam a voar. Saíram do ninho e dançaram no céu azul, fazendo rodopios acrobáticos. Apenas um ficou no ninho. A Dona Andorinha veio chamar uma, duas vezes. O filhote respondia, cheio de orgulho e segurança:
─ Ora, Senhora Minha Mãe, ainda as minhas penas acabaram de crescer e já me querem fora do ninho! Não sou como meus irmãos, não senhor! Uns estouvados, irresponsáveis, que ainda mal sabendo quem são, já se põem nessas correrias. Tenho tempo, e quando chegar a minha vez voarei mais alto e mais longe que todos os da minha espécie.
A Dona Andorinha não insistiu, tinha dois outros filhotes sedentos de aprender. Ainda assim, todos os dias levava ao ninho mais minhocas e insectos que qualquer outro passarinho se podia gabar de comer. Passou a Primavera, passou o Verão. Seus irmãos eram já mestres na arte da aviação. Ele, não. Pressa era palavra proibida, inimiga da perfeição. Estava-se muito bem no ninho cheiroso, a barriga cheia com a comidinha da mamã. Mas, de novo o Senhor Tempo fez das suas, e chegou o dia em que Dona Andorinha e seu marido anunciaram ser altura de viajar para África. A grande preocupação era o filhote reticente em aprender o que os seus irmãos já dominavam. O Inverno seria demasiado rigoroso para que pudessem aguentá-lo protegidos apenas pelo ninho. Porém, isso significava abandonar o terceiro filhote. Dona Andorinha teve de escolher. E escolheu. Entre salvar dois ou nenhum, não pensou muito.
─ Vamos para África onde a terra é quente e há fartura. Aqui tudo morre durante o Inverno. E tu, terceiro filhote, terás a árdua tarefa de aprender a voar sozinho e em pouco tempo. Poderás, talvez, procurar um sítio quente, e tentar sobreviver com os insectos que te caírem no bico.
O filhote empoleirou-se no topo do seu orgulho e abriu o bico para responder:
─ Vão-se embora, pais ingratos! Vão-se embora, irmãos estroinas. Hão-de ser muito felizes em África, não haja dúvida. Eu cá ficarei, e tomarei em mãos a árdua tarefa de sobreviver, já que ninguém se preocupa com isso. Não me dão nem uma pequena ajuda!
Dona Andorinha e seu marido passaram o resto do dia a encher-lhe o ninho de minhocas e insectos para que pudesse começar a vida com mais essa vantagem. No dia seguinte partiram resolutos, mas com o coração pesado. O filhote ficou no ninho, sozinho, ouvindo o muu da vaca e hi ho do burro. Começava a ter algum frio porque o Senhor Vento passava, agora, com alguma pressa. Em pouco tempo devorou toda a comida que lhe deixara a mamã. Lamentava-se para quem quisesse ouvir:
─ Ai a minha sorte! Ninguém me ajuda, a mim que não sei voar nem fui ensinado.
Ouvindo os lamentos, a vaca pôs a cabeça de fora de fora do estábulo, olhou para cima, e mugiu:
─ Deves ser tu a quem a Dona Andorinha e o seu marido levaram comida o Verão inteiro. Por que é que não aprendeste a voar como os teus irmão? Falta-te alguma asa? Não tens penas?
Também ele, o terceiro filhote, pôs a cabeça de fora e muito empertigado piou a resposta:
─ E pensas tu que aprender a voar na perfeição é coisa fácil? Ninguém me dá tempo para fazer as coisas como devem ser feitas. Nem o Senhor Tempo teve consideração por mim. Se me tivessem dado oportunidades justas, seria agora bem mais expedito que os parvos dos meus dois irmãos!
A vaca calou-se e continuou a mastigar palha. O Inverno foi longo e rigoroso como anunciara a Dona Andorinha. Mas quando chegou a Primavera brotaram flores em todos os cantos. O Sol apaziguou o seu amuo e já brilhava com o encanto de antes. A Dona Andorinha voltou de África, acompanhada pela sua família feliz. Encontraram o antigo ninho caído no chão, derrubado pelo Senhor Vento numa das suas fúrias. Quanto ao terceiro filhote, foi bem aproveitado na barriga de um gato faminto.
Certo dia, chegando a Primavera, duas andorinhas pousaram no telhado de um estábulo e aí fizeram o seu ninho. Dentro do ninho a Dona Andorinha depositou três ovos. De dentro dos ovos estavam quase a nascer três filhotes. A ansiedade dos futuros papás foi bem recompensada na manhã em que três pequenos bicos partiram as cascas. Os filhotes começaram logo a engordar com as minhocas deliciosas que os papás achavam e enfiavam pelas três goelas escancaradas. Já tinham penas sedosas, apropriadas ao voo rápido das andorinhas. Assim, quase sem o Senhor Tempo se aperceber, dois dos três filhotes aprenderam a voar. Saíram do ninho e dançaram no céu azul, fazendo rodopios acrobáticos. Apenas um ficou no ninho. A Dona Andorinha veio chamar uma, duas vezes. O filhote respondia, cheio de orgulho e segurança:
─ Ora, Senhora Minha Mãe, ainda as minhas penas acabaram de crescer e já me querem fora do ninho! Não sou como meus irmãos, não senhor! Uns estouvados, irresponsáveis, que ainda mal sabendo quem são, já se põem nessas correrias. Tenho tempo, e quando chegar a minha vez voarei mais alto e mais longe que todos os da minha espécie.
A Dona Andorinha não insistiu, tinha dois outros filhotes sedentos de aprender. Ainda assim, todos os dias levava ao ninho mais minhocas e insectos que qualquer outro passarinho se podia gabar de comer. Passou a Primavera, passou o Verão. Seus irmãos eram já mestres na arte da aviação. Ele, não. Pressa era palavra proibida, inimiga da perfeição. Estava-se muito bem no ninho cheiroso, a barriga cheia com a comidinha da mamã. Mas, de novo o Senhor Tempo fez das suas, e chegou o dia em que Dona Andorinha e seu marido anunciaram ser altura de viajar para África. A grande preocupação era o filhote reticente em aprender o que os seus irmãos já dominavam. O Inverno seria demasiado rigoroso para que pudessem aguentá-lo protegidos apenas pelo ninho. Porém, isso significava abandonar o terceiro filhote. Dona Andorinha teve de escolher. E escolheu. Entre salvar dois ou nenhum, não pensou muito.
─ Vamos para África onde a terra é quente e há fartura. Aqui tudo morre durante o Inverno. E tu, terceiro filhote, terás a árdua tarefa de aprender a voar sozinho e em pouco tempo. Poderás, talvez, procurar um sítio quente, e tentar sobreviver com os insectos que te caírem no bico.
O filhote empoleirou-se no topo do seu orgulho e abriu o bico para responder:
─ Vão-se embora, pais ingratos! Vão-se embora, irmãos estroinas. Hão-de ser muito felizes em África, não haja dúvida. Eu cá ficarei, e tomarei em mãos a árdua tarefa de sobreviver, já que ninguém se preocupa com isso. Não me dão nem uma pequena ajuda!
Dona Andorinha e seu marido passaram o resto do dia a encher-lhe o ninho de minhocas e insectos para que pudesse começar a vida com mais essa vantagem. No dia seguinte partiram resolutos, mas com o coração pesado. O filhote ficou no ninho, sozinho, ouvindo o muu da vaca e hi ho do burro. Começava a ter algum frio porque o Senhor Vento passava, agora, com alguma pressa. Em pouco tempo devorou toda a comida que lhe deixara a mamã. Lamentava-se para quem quisesse ouvir:
─ Ai a minha sorte! Ninguém me ajuda, a mim que não sei voar nem fui ensinado.
Ouvindo os lamentos, a vaca pôs a cabeça de fora de fora do estábulo, olhou para cima, e mugiu:
─ Deves ser tu a quem a Dona Andorinha e o seu marido levaram comida o Verão inteiro. Por que é que não aprendeste a voar como os teus irmão? Falta-te alguma asa? Não tens penas?
Também ele, o terceiro filhote, pôs a cabeça de fora e muito empertigado piou a resposta:
─ E pensas tu que aprender a voar na perfeição é coisa fácil? Ninguém me dá tempo para fazer as coisas como devem ser feitas. Nem o Senhor Tempo teve consideração por mim. Se me tivessem dado oportunidades justas, seria agora bem mais expedito que os parvos dos meus dois irmãos!
A vaca calou-se e continuou a mastigar palha. O Inverno foi longo e rigoroso como anunciara a Dona Andorinha. Mas quando chegou a Primavera brotaram flores em todos os cantos. O Sol apaziguou o seu amuo e já brilhava com o encanto de antes. A Dona Andorinha voltou de África, acompanhada pela sua família feliz. Encontraram o antigo ninho caído no chão, derrubado pelo Senhor Vento numa das suas fúrias. Quanto ao terceiro filhote, foi bem aproveitado na barriga de um gato faminto.