segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O COELHO QUE FOI À CIDADE

O COELHO QUE FOI À CIDADE

O coelhinho queria ver a cidade. Isso de bosque, de árvores altas e frescas, flores aromáticas, cantos e recantos macios de musgo húmido, tocas aconchegantes que protegem da chuva, enfim, esse mundo que já sabia de cor o enfastiava.
As patas de trás empurravam as da frente e todo ele saltitava procurando o fim da floresta, as luzes da cidade. Ah, que imprudência, comentavam os bichos, um coelhinho assim, bem criado e mimado, a querer embrenhar-se nessa fantasia de loucos, essa selva de luzes que queimam os olhos e cegam o coração. Um sítio onde se janta lebre e se almoça perdiz não é lugar para um coelhinho bem nascido.
Mas o coelhinho não parava e viajava feliz pelo trilho do bosque, em direcção ao sol que se punha, já avistando a cidade. A certa altura, já a noite descera, deu com outro trilho, este bem largo, que cruzava o seu. Passavam por ele bichos velozes, de olhos luzidios, gatos gigantes, pensou. Havia montanhas iluminadas, e gente como já tinha visto no bosque, correndo por todo o lado. Os tais gatos gigantes não cessavam de passar e soltavam pestilências. Mas o seu narizito registava também outros cheiros, esses maravilhosos, que vinham das entradas das montanhas iluminadas e lhe acordavam a fome. Quis atravessar o trilho e investigar, isso implicava enfiar-se entre dois desses gatos gigantes que tinham pressa e corriam em rebanho. Assim fez. Um salto e… cegou por um instante. As luzes queimavam-lhe os olhos. Então, as orelhas espetaram-se contra o céu nocturno, sentou-se sobre as patas de trás e assim ficou. Houve guinchos estridentes, gatos gigantes a desviarem-se e a chocar contra sabe-se lá o quê. As gentes gritavam e gesticulavam. Um desses, dos homens aproximou-se. Xô, xô, coelhinho!, disse, que andas tu a fazer por estas bandas? Volta para o bosque antes que mais te suceda. E batia com as patas no chão, sem o pisar. O coelhinho achou aquilo muito esquisito. Deu meia volta e pôs-se a saltitar em direcção à floresta.

3 comentários:

  1. A realidade dos dias,visto pelos animais.
    De vez em quando fugir,fugir a furia dos dias,e aproveitar o que nos da a natureza

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  2. Uma visão diferente e cheia de boa vontade. Quem nos dera que as gentes tivessem o comportamento de um desses homens. O mundo seria bem melhor

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  3. Uma leitura fresca, leve e corajosa... Gosto muito :)

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